O mercado brasileiro de açúcar durante o período crucial de julho a agosto de 2025 apresentou um cenário complexo e muitas vezes contraditório para os participantes globais. Esse período foi caracterizado por uma tensão fundamental entre uma perspectiva global pessimista, dominada por previsões de um excedente significativo de oferta, e uma realidade mais matizada e restritiva no próprio Brasil. A agência local de previsão de safra, Conab, emitiu revisões para baixo em suas estimativas de produção para 2025/26, citando os efeitos negativos persistentes do clima adverso do ano anterior, que prejudicou a produtividade e a qualidade da cana-de-açúcar. Essa pressão interna sobre a oferta se refletiu nos dados operacionais da região Centro-Sul, onde as usinas maximizaram agressivamente a produção de açúcar em detrimento do etanol para compensar os retornos agrícolas mais baixos, especificamente o nível de Açúcar Total Recuperável (ATR) na cana, que foi o mais baixo da década.
Esse pivô estratégico das usinas sustentou volumes de exportação robustos, mas o aumento nos embarques, agravado por uma safra de soja abundante, criou graves gargalos logísticos nos principais portos, principalmente em Santos. O congestionamento resultante gerou atrasos significativos e custos ocultos, complicando a precificação e a execução de contratos físicos. No cenário internacional, os preços futuros de referência permaneceram voláteis, encontrando um piso no aumento dos preços do etanol no Brasil, mas limitados pela perspectiva iminente de aumento das exportações de uma safra indiana em recuperação. Para comerciantes, produtores e compradores, navegar no mercado de meados de 2025 exigiu um profundo conhecimento não apenas dos números globais de oferta e demanda, mas também das realidades granulares da qualidade da safra brasileira, da economia das usinas e dos atritos logísticos em nível de porto. Em última análise, a direção do mercado foi ditada pela capacidade de conciliar a narrativa macro do excedente com os desafios de nível micro enfrentados pelo maior exportador de açúcar do mundo.

O contexto global - uma narrativa de excedente temperada por realidades regionais
O mercado de açúcar em meados de 2025 operou sob a sombra de um excedente significativo de oferta global previsto para o ano comercial de 2025/26. Esse sentimento de baixa foi impulsionado principalmente por projeções de analistas influentes e agências governamentais, que previam uma recuperação substancial na produção dos principais participantes globais. No entanto, essa perspectiva macro era frequentemente desafiada por preocupações mais imediatas com a oferta regional, criando um ambiente de negociação volátil em que os fundamentos de longo prazo se chocavam com os riscos de curto prazo.
O grande debate: superávit ou déficit?
A narrativa dominante que moldou o sentimento do mercado foi a de excesso de oferta. O trader de commodities Czarnikow, em 30 de junho, projetou um excedente global de açúcar de 7,5 milhões de toneladas métricas (MMT) para a temporada 2025/26, o maior excedente em oito anos. Essa visão foi fortemente apoiada pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), que, em seu relatório semestral, previu uma produção global recorde de 189,3 MMT, superando em muito o consumo projetado e levando a um aumento substancial nos estoques finais. Essa perspectiva foi baseada em fortes aumentos de produção no Brasil e na Índia, mais do que compensando as quedas em regiões como a União Europeia.
Em forte contraste com esse consenso de baixa, a Organização Internacional do Açúcar (ISO) ofereceu uma perspectiva mais cautelosa. Embora tenha reconhecido um excedente para a temporada 2023/24, a ISO aumentou sua previsão para a temporada 2024/25 do açúcar globaldéficitpara uma alta de nove anos de -5,47 MMT, sinalizando um mercado imediato muito mais apertado. Para a temporada 2025/26, a ISO projetou um déficit global marginal de -231.000 MT, sugerindo um mercado quase equilibrado em vez de um mercado inundado pelo excesso de oferta. Essa divergência nas previsões criou uma incerteza fundamental, com o mercado dividido entre a perspectiva de um futuro excesso e a realidade de um balanço mais apertado na temporada atual.
Observação da concorrência: Índia e Tailândia
A posição estratégica do Brasil foi fortemente influenciada pelas perspectivas de produção de seus principais concorrentes, a Índia e a Tailândia.
Índia:O fator de baixa mais significativo no cenário global foi a recuperação prevista da produção de açúcar da Índia. Depois de uma temporada ruim em 2024/25, as chuvas de monções favoráveis e o aumento da área cultivada levaram o USDA e outros analistas a projetar uma recuperação da produção de mais de 25%, para aproximadamente 35,3 MMT em 2025/26. A variável crítica para o mercado global foi a política de exportação da Índia. Tendo restringido as exportações desde 2023 para proteger os suprimentos domésticos, surgiram relatos de que o governo pode permitir que as usinas exportem 2 MMT na próxima temporada. O possível retorno desse volume ao mercado mundial funcionou como um limite significativo para as altas de preços internacionais.
Tailândia:Como o segundo maior exportador do mundo, a produção da Tailândia é sempre um fator importante do mercado. Esperava-se que a produção para 2025/26 registrasse um aumento modesto de cerca de 2%, para 10,3 MMT. Embora isso aumente a oferta global, os preços altamente competitivos e a reputação de confiabilidade do Brasil, especialmente para o ICUMSA 45 de alta qualidade, permitiram que o país mantivesse uma forte vantagem competitiva nos principais mercados da Ásia, do Oriente Médio e da África.
Sinais de demanda
Apesar da narrativa geral do excedente, os sinais de demanda em meados de 2025 permaneceram robustos, proporcionando um piso crucial para os preços. A China, um grande importador constante, demonstrou forte interesse de compra, com suas importações de açúcar em julho aumentando em 76%, para 740.000 toneladas. Os dados de julho confirmaram que a China foi o principal destino das exportações brasileiras de açúcar. Simultaneamente, o Paquistão entrou no mercado com licitações de 200.000 toneladas de açúcar refinado para estabilizar seus preços domésticos, sinalizando que as principais nações importadoras estavam buscando ativamente a formação de estoques.
Essa dinâmica revela um mercado que, embora antecipasse um excedente futuro, estava negociando principalmente com base em um modelo de risco "centrado no Brasil". As altas consistentes de preços observadas em resposta a notícias negativas do Brasil - como os rebaixamentos de produção da Conab - demonstram que o mecanismo de descoberta imediata de preços do mercado era desproporcionalmente sensível às realidades operacionais do maior fornecedor do mundo. Com o Brasil respondendo por aproximadamente 45% do total das exportações globais de açúcar, qualquer ameaça percebida à sua capacidade de entrega superava as previsões mais abstratas e de longo prazo de um superávit global. Para os traders em julho e agosto de 2025, o principal fator de volatilidade não era o balanço global agregado para o próximo ano, mas os riscos imediatos e tangíveis para a safra brasileira em andamento.
A safra brasileira de 2025/26 - uma história de clima, produtividade e estratégia das usinas
A narrativa da safra 2025/26 do Brasil durante os meses de julho e agosto foi de resiliência e adaptação estratégica diante de desafios agrícolas significativos. Embora os números da produção tenham permanecido próximos de níveis recordes, um exame mais detalhado dos dados subjacentes de agências governamentais e grupos do setor revelou uma safra sob estresse, forçando as usinas a tomar decisões operacionais críticas para cumprir seus compromissos de exportação.
Dissecando as previsões: Conab vs. USDA
As duas previsões mais observadas para a produção brasileira de açúcar ofereceram perspectivas ligeiramente diferentes, com a divergência enraizada em sua ênfase nos fatores agrícolas e industriais.
Posição da Conab:A Conab, a agência nacional de agricultura do Brasil, apresentou uma perspectiva mais cautelosa. Em agosto, ela revisou para baixo sua previsão de produção de açúcar para 2025/26 em 3,1%, de 45,9 MMT iniciais para 44,5 MMT. Essa revisão não foi arbitrária; ela se baseou em uma avaliação detalhada dos danos persistentes da seca severa, do calor excessivo e dos incêndios florestais que assolaram a região Centro-Sul em 2024. Esses eventos climáticos adversos tiveram um impacto direto e mensurável sobre a safra. A Conab informou que a produtividade média nacional da cana-de-açúcar deverá cair 2,1%, para 75,6 toneladas por hectare. Mais importante ainda, a qualidade da própria cana foi comprometida, levando a um declínio de 2,8% no nível de Açúcar Total Recuperável (ATR) - a principal métrica do setor para o teor de açúcar.
Posição do USDA:O USDA manteve uma previsão um pouco mais otimista de 44,7 MMT. A análise da agência atribuiu maior peso à capacidade industrial e à flexibilidade estratégica das usinas brasileiras. A previsão do USDA foi apoiada por fatores como o aumento da capacidade de cristalização das usinas e o claro incentivo econômico para que as usinas maximizem seu mix de produção de açúcar. Essa perspectiva, embora válida, parecia dar menos ênfase às restrições agrícolas fundamentais destacadas pelas avaliações locais da Conab.
Realidade no local: Dados Bi-Semanais da UNICA
Os dados de produção de alta frequência da associação do setor de cana-de-açúcar, a UNICA, forneceram uma visão em tempo real do progresso da colheita e das estratégias que as usinas estavam empregando.
Segunda quinzena de julho:Os dados desse período validaram as preocupações da Conab com relação à qualidade da cana. A produção de açúcar no Centro-Sul caiu 0,8% em relação ao ano anterior, para 3,61 MMT. Essa queda ocorreuapesar deAs usinas desviaram uma parcela significativamente maior de sua cana moída - 54,10%, contra 50,32% no mesmo período do ano anterior - para a produção de açúcar. A implicação era clara: o teor de açúcar da cana era tão baixo que, mesmo com um foco maior no açúcar, as usinas estavam produzindo menos. O diretor da UNICA confirmou que o nível de TRS da safra foi o mais baixo observado em uma década.
Primeira quinzena de agosto:O período de duas semanas seguinte apresentou um quadro diferente, mostrando a imensa alavancagem operacional das usinas. A produção de açúcar aumentou 16% em relação ao ano anterior, atingindo 3,615 MMT. Essa recuperação notável foi alcançada com o aumento do mix de açúcar para 55,00%, ainda mais agressivo, em comparação com 49,15% na primeira metade de agosto de 2024.
Visualização cumulativa:O aumento de agosto, no entanto, não foi suficiente para apagar os déficits anteriores da temporada. A produção acumulada de açúcar da safra 2025/26 no Centro-Sul até meados de agosto ficou em 22,886 MMT, ainda 4,7% abaixo do ano anterior. Esse valor acumulado fornece uma representação mais precisa da saúde geral da safra do que os voláteis números quinzenais.

Esses dados revelam que as usinas estavam envolvidas em uma "corrida de produção". Diante de uma cana de qualidade historicamente ruim (TRS baixo), elas foram forçadas a processar mais matéria-prima e dedicar uma parcela recorde dela ao açúcar simplesmente para se aproximar dos níveis de produção dos anos anteriores. Isso não é um sinal de uma colheita saudável e robusta, mas sim uma prova da eficiência industrial usada para compensar um déficit agrícola. Essa estratégia também é finita; ela depende muito da continuidade de um clima seco favorável à colheita e não pode superar totalmente uma falta fundamental de açúcar na cana.
Além disso, o forte número de produção de agosto, quando visto isoladamente, apresentou uma possível "armadilha para touros" para os participantes do mercado. Um trader que observasse apenas o aumento de 16% em relação ao ano anterior poderia concluir que os problemas de produção do Brasil estavam resolvidos, levando a uma postura de baixa. No entanto, o contexto do mix de açúcar com recorde de alta e a produção acumulada ainda negativa sugerem que o problema agrícola subjacente persiste. Os dados de agosto refletiram uma decisão estratégica temporária, embora poderosa, das usinas, em vez de uma melhoria fundamental no potencial da safra.
O fator decisivo: Paridade entre açúcar e etanol
A força motriz por trás da estratégia das usinas foi simplesmente econômica. Ao longo de julho e agosto, os atraentes preços internacionais do açúcar, ampliados por uma taxa de câmbio USD/BRL favorável, ofereceram retornos significativamente melhores do que a venda de etanol no mercado interno brasileiro. Essa disparidade de preços incentivou a maximização da produção de açúcar, uma tendência que deve continuar até o pico da safra, especialmente porque a cana mais seca é mais adequada para a cristalização. Entretanto, essa dinâmica tem um estabilizador embutido. À medida que mais cana-de-açúcar é desviada para o açúcar, a oferta de etanol doméstico fica mais restrita, fazendo com que seu preço aumente. Os analistas estimaram que os preços do etanol estavam fornecendo um "piso" de preço efetivo para os futuros do açúcar, equivalente a aproximadamente 16 centavos de dólar por libra-peso no contrato nº 11 de Nova York. Se os preços do açúcar caíssem abaixo desse nível por um período prolongado, o cálculo econômico mudaria, fazendo com que as usinas voltassem a produzir etanol. Isso, por sua vez, reduziria a oferta de açúcar exportável, dando suporte aos preços globais.
O cenário do mercado doméstico brasileiro
Embora o mercado internacional de exportação seja o que mais chama a atenção, o vasto mercado interno de açúcar do Brasil desempenha um papel crucial e, muitas vezes, preditivo na dinâmica geral de oferta e preços. A interação entre a demanda local, os preços spot e a lucratividade calculada das exportações - conhecida como paridade de exportação - é um fator determinante da estratégia das usinas e pode servir como um indicador importante das mudanças na oferta global.
Dinâmica de preços domésticos
Durante o período de julho a agosto de 2025, o mercado interno brasileiro apresentou sinais de aperto e volatilidade de preços. No principal mercado spot de São Paulo, foi relatado que os preços do açúcar cristal estavam subindo devido à disponibilidade limitada para pronta entrega, indicando que a demanda local estava competindo fortemente por uma oferta finita. Dados de 26 de agosto mostraram que os preços de atacado do açúcar cristal orgânico no estado de Pernambuco estavam em aproximadamente US$ 0,62 por quilograma, o equivalente a US$ 620 por tonelada métrica. No entanto, o mercado não ficou isento de flutuações. O preço médio à vista em São Paulo em julho registrou uma queda de 6,3% em relação a junho, o que sugere que os preços foram sensíveis ao ritmo da colheita e ao lançamento de açúcar da nova safra no mercado. Essa volatilidade ressalta o equilíbrio dinâmico entre a produção industrial em andamento e a demanda imediata do consumidor e da indústria no Brasil.
O cálculo da paridade de exportação
Para cada usina de açúcar brasileira, a decisão econômica central é um cálculo contínuo da paridade de exportação: qual canal de vendas, doméstico ou internacional, oferece um melhor retorno líquido? Esse cálculo não é estático e é influenciado pelos preços futuros internacionais, pela taxa de câmbio USD/BRL, pelos preços spot domésticos e pelos custos associados à exportação.
No final de 2024, surgiu uma condição de mercado notável em que os preços domésticos ofereceram um retorno 4,21% maior do que o preço de exportação equivalente. Esse prêmio foi resultado direto da oferta local restrita e demonstrou que o mercado doméstico é totalmente capaz de superar os compradores internacionais quando as condições o justificam. No entanto, a tendência predominante durante o primeiro semestre de 2025 mudou decisivamente em favor das exportações. Um dólar americano forte em relação ao real brasileiro, combinado com preços futuros internacionais elevados, tornou a exportação a opção mais lucrativa na maior parte do período.
Historicamente, os preços do açúcar no mercado interno brasileiro tendem a acompanhar o preço do mercado mundial, mas muitas vezes com um desconto equivalente ao custo do frete interno e da logística para levar o produto ao porto. Essa é uma característica única do mercado brasileiro; como o volume de exportação é tão grande que efetivamente define o piso do preço global, o preço mundial deve, no longo prazo, cobrir os custos de produção e logística brasileiros.
O comportamento do mercado doméstico fornece um sinal crítico para os traders globais. Um aumento acentuado e sustentado nos preços domésticos em relação à paridade de exportação, como foi visto brevemente no final de 2024, é um indicador importante de restrição da oferta de exportação. Ele sinaliza que as usinas estão achando mais lucrativo desviar o volume para atender à demanda local. Isso pode preceder qualquer mudança perceptível nos alinhamentos de embarque nos portos ou nas estatísticas oficiais de exportação, oferecendo um aviso antecipado de que a disponibilidade de açúcar para o mercado global pode estar se contraindo. Portanto, participantes sofisticados do mercado monitoram os indicadores de preços domésticos brasileiros, como o índice Cepea/Esalq, não apenas como uma medida do consumo local, mas como uma pista vital para o futuro fluxo de açúcar no cenário mundial.
Deep Dive de exportação - Operações e volumes portuários (julho-agosto de 2025)
O período de meados de 2025 foi uma época de intensa atividade e pressão significativa sobre a infraestrutura de logística de exportação do Brasil. Embora as usinas tenham produzido e transportado com sucesso grandes volumes de açúcar para o litoral, o recorde de produção nos principais portos do país levou a um congestionamento grave, criando atrasos que se espalharam pela cadeia de suprimentos e afetaram o custo e o prazo das entregas em todo o mundo.
Quadro de exportação total
As exportações totais de açúcar do Brasil em julho de 2025 totalizaram 3,58 MMT. Isso representou um aumento de 6% em relação ao mês anterior, junho, mas houve uma queda de 5% em comparação com os volumes recordes de julho de 2024. A composição dessas exportações foi fortemente voltada para o açúcar bruto, com 3,13 MMT de açúcar VHP (Very High Polarization) e 449.000 toneladas métricas (MT) de açúcar branco refinado sendo embarcadas. O principal destino dessas cargas durante o mês foi a China, destacando a importância contínua da demanda asiática.
O Porto de Santos: O epicentro das exportações
O Porto de Santos, que movimenta aproximadamente 75% das exportações de açúcar do Brasil, registrou um aumento de atividade sem precedentes. Em julho, o porto movimentou um recorde histórico de 17,4 milhões de toneladas de carga total. Esse volume maciço foi impulsionado por dois fatores principais: uma corrida dos exportadores de vários produtos para embarcar para os Estados Unidos antes das tarifas recém-anunciadas e uma onda colossal de exportações de soja de uma colheita atrasada, mas grande.
Embora os volumes específicos e oficiais de exportação somente de açúcar para Santos em julho não tenham sido detalhados, os dados de programação de embarque fornecem um indicador claro da atividade. Um relatório para a semana que terminou em 23 de julho mostrou um enorme volume de 2,45 MMT de açúcar programado para carregamento em Santos. Na semana que terminou em 20 de agosto, o volume programado havia se moderado, mas permanecia substancial em 1,92 MMT. O porto foi levado além de sua capacidade ideal, resultando em um congestionamento grave. Agentes marítimos relataram que os navios estavam esperando até seis dias por um ancoradouro, e as rodovias que levam ao porto estavam congestionadas com milhares de caminhões, criando gargalos significativos no interior.
Análise comparativa de portos: Paranaguá e Maceió
Paranaguá:Como o segundo porto mais importante do Brasil para as exportações de açúcar, Paranaguá também teve um mês recorde. Ele movimentou um total de 7,3 milhões de toneladas de carga em julho. Suas operações de açúcar permaneceram robustas, com a programação do final de julho mostrando 640.160 toneladas programadas para carregamento, um número que aumentou para 703.510 toneladas no final de agosto. O porto demonstrou sua alta eficiência no manuseio de grandes navios graneleiros, carregando com sucesso um único navio com 58.175 toneladas métricas de açúcar destinadas ao Oriente Médio, um volume significativamente acima do tamanho típico da carga.
Maceió:Representando a capacidade de exportação da região Norte-Nordeste, o Porto de Maceió movimenta volumes menores, mas ainda assim significativos. A programação de embarque para o final de julho indicava 11.400 toneladas de açúcar, enquanto a programação para o final de agosto indicava 8.000 toneladas. Esses volumes são cruciais para atender a mercados específicos e oferecer uma alternativa aos congestionados portos do sul.

Fonte: Dados compilados da linha de embarque da Williams Brasil para a semana encerrada em 23 de julho de 2025.
O intenso congestionamento observado, principalmente em Santos, tem implicações profundas para a execução de contratos e a fixação de preços. Para os compradores que operam com contratos Free On Board (FOB), em que assumem o risco e o custo assim que a carga é carregada, o congestionamento portuário representa um risco financeiro significativo e não quantificado. O comprador é responsável pelo fretamento do navio e, se esse navio for forçado a esperar ociosamente por seis dias adicionais antes de poder atracar, o comprador arcará com o custo total desse atraso na forma de encargos de sobreestadia. Esses encargos podem chegar a dezenas de milhares de dólares por dia, adicionando um "custo oculto" substancial ao preço FOB nominal. Esse atrito logístico significa que um trader experiente pode achar que um contrato de Custo, Seguro e Frete (CIF) é mais viável economicamente, pois transfere o risco de atrasos no porto de volta para o vendedor. Como alternativa, um comprador pode optar por pagar um prêmio para carregar em um porto menos congestionado, como Paranaguá, para garantir um cronograma de carregamento mais previsível e evitar a dispendiosa incerteza de Santos.
ICUMSA 45 Estruturas de preços e contratos
A precificação do açúcar brasileiro ICUMSA 45 é um processo de várias camadas, que começa com benchmarks internacionais de futuros e culmina em um preço físico que reflete os termos específicos da negociação, incluindo local, prazo e volume de entrega. Compreender a distinção entre preços de referência, termos FOB e CIF e acordos spot versus contratos é essencial para qualquer participante do mercado.
Indicadores de referência: NY No. 11 e Londres No. 5
A base do preço global do açúcar está em dois contratos futuros importantes. O contrato ICE Sugar No. 11, negociado em Nova York, é a referência global para o açúcar bruto e é cotado em centavos de dólar dos EUA por libra-peso. O contrato ICE White Sugar No. 5, negociado em Londres, serve como referência para o açúcar branco refinado (do qual o ICUMSA 45 é o grau mais alto) e é cotado em dólares americanos por tonelada métrica.
Durante o período de julho a agosto de 2025, esses mercados apresentaram uma volatilidade considerável. O contrato No. 11 de NY foi negociado em uma faixa de aproximadamente 16,3 centavos de dólar/libra-peso a 17,2 centavos de dólar/libra-peso. Enquanto isso, o contrato futuro nº 5 de Londres para entrega em agosto oscilou entre aproximadamente US$ 460/MT e US$ 497/MT. O diferencial de preço entre esses dois contratos é conhecido como "prêmio branco" e representa a margem teórica para as refinarias de açúcar.
Detalhamento do preço físico: FOB vs. CIF
As transações físicas de açúcar são regidas pelos Incoterms (Termos Comerciais Internacionais) que definem as responsabilidades do comprador e do vendedor. Os dois termos mais comuns no comércio de açúcar são FOB e CIF.
FOB (Free On Board):Em um contrato FOB, o preço cotado pelo vendedor inclui o custo do açúcar em si e todas as despesas necessárias para carregá-lo no navio indicado pelo comprador no porto brasileiro especificado (por exemplo, "FOB Santos"). Depois que o açúcar passa pela amurada do navio, todos os riscos e custos adicionais, incluindo frete marítimo e seguro, são transferidos para o comprador. Um relatório de mercado de junho de 2025 citou um preço FOB médio para o ICUMSA 45 no Brasil emUS$ 488/MTum nível que se alinha estreitamente com os preços futuros do No. 5 de Londres vigentes na época.CIF (Custo, Seguro e Frete):Em um contrato CIF, a responsabilidade do vendedor é ampliada significativamente. O preço cotado inclui não apenas o custo do açúcar e do carregamento, mas também o frete marítimo até o porto de destino designado pelo comprador e um nível mínimo de cobertura de seguro para a viagem. O comprador é responsável por quaisquer custos e riscos após a chegada do navio, como taxas de importação e descarregamento. Portanto, os preços CIF são sempre mais altos do que os preços FOB e variam de acordo com o destino. Uma lista de preços de julho de 2025 para o ICUMSA 45 brasileiro oferecia um preço CIF ASWP (Any Safe World Port) deUS$ 675/MTpara um comprador que se compromete com um contrato de 12 meses.
O prêmio pela rapidez: preço à vista versus preço de contrato
O momento e a duração de um contrato de compra têm um impacto direto sobre o preço.Preço do contrato:As usinas e as principais tradings preferem, em sua maioria, vender com contratos de longo prazo, geralmente de 12 meses, com volumes mensais fixos. Esses acordos proporcionam estabilidade de receita e permitem um planejamento logístico eficiente. Em troca desse compromisso, os compradores recebem preços preferenciais. O preço acima mencionado deUS$ 675/MT CIFé um exemplo desse preço de contrato para um volume de 12.500 toneladas por mês.
Preço à vista:Uma compra à vista é uma transação única para entrega imediata ou quase imediata. Essas transações têm um prêmio de preço significativo. Esse prêmio reflete o aumento dos custos e riscos do vendedor associados à logística de última hora, à garantia de espaço no navio em um mercado apertado e à renúncia à estabilidade de um compromisso de longo prazo. A mesma lista de preços de julho de 2025 cotava um preço à vista de705/MT CIFum prêmio de US$ 30/MT, ou 4,4%, sobre o preço do contrato anual para o mesmo volume.
Esse prêmio spot é mais do que apenas um reflexo da oferta e da demanda pelo açúcar em si; ele serve como uma medida direta e quantificável do atrito logístico dentro do sistema de exportação brasileiro. Quando um vendedor precisa organizar um embarque spot a partir de um porto congestionado como o de Santos, ele enfrenta desafios para garantir vagas de atracação imediatas, coordenar o transporte terrestre em curto prazo e encontrar capacidade disponível para os navios. O prêmio de US$ 30/MT é efetivamente o preço para superar esses obstáculos. Um prêmio spot crescente é, portanto, um forte indicador em tempo real de que o congestionamento do porto, a disponibilidade de navios e os desafios logísticos internos estão piorando.

Observação: os preços são estimados com base em dados de mercado de julho a agosto de 2025. O preço spot FOB é uma extrapolação baseada no prêmio spot CIF observado. Todos os preços estão sujeitos a flutuações diárias do mercado e a negociações. Os futuros de referência do London No. 5 para o período foram em média ~$ 480/MT.
A mecânica das remessas de grandes volumes
A exportação de açúcar do Brasil, especialmente o ICUMSA 45 de alta qualidade, é uma operação de capital intensivo e logisticamente complexa, centrada em remessas a granel de grande volume. Toda a cadeia de suprimentos, desde o transporte terrestre até as operações portuárias e a segurança financeira, é estruturada para lidar com tamanhos de carga padronizados de forma eficiente. Compreender a mecânica dessas remessas é fundamental para qualquer importador em potencial.
Tamanhos de remessa padrão e logística
O comércio internacional de açúcar é dominado por remessas a granel em navios de tamanhos padronizados. As quantidades mais comuns para transações são 12.500 MT, 25.000 MT e 50.000 MT, que correspondem às capacidades dos navios graneleiros Handysize e Supramax/Panamax. Embora às vezes sejam discutidas remessas de 100.000 toneladas, elas geralmente não são viáveis para o açúcar devido a limitações nos terminais de carga e descarga.
A cadeia logística para esses grandes volumes envolve vários estágios importantes:
- Transporte terrestre:O açúcar é transportado das usinas produtoras, principalmente em estados como São Paulo, até o porto por caminhão ou trem. O custo desse trajeto terrestre é um componente significativo do preço final, estimado em cerca deUS$ 40 por tonelada métricapara o Porto de Santos.
- Carregamento de porta:O processo de carregamento de um navio graneleiro é demorado e depende muito da eficiência do porto. O carregamento de uma carga de 12.500 toneladas normalmente leva entre4 a 7 diasenquanto um navio maior, de 50.000 toneladas, pode exigir até14 diasno berço. Esses cronogramas são altamente suscetíveis ao clima e ao tipo de congestionamento portuário observado em meados de 2025.
- Frete marítimo:O custo da viagem marítima é a maior variável na determinação do preço CIF. Ele depende do destino, do tamanho da embarcação e das condições do mercado global de frete. Para grandes pedidos de açúcar do Brasil, esse custo normalmente varia deUS$ 30 a US$ 60 por tonelada métrica.
A escolha do tamanho da remessa tem relação direta com o custo por unidade do produto final. As tarifas de frete marítimo apresentam economias de escala significativas; o fretamento de um navio Panamax maior para transportar 50.000 toneladas resulta em um custo por tonelada menor do que o fretamento de dois navios Handysize menores para transportar 25.000 toneladas cada. Da mesma forma, muitos encargos portuários e taxas administrativas têm componentes fixos, o que significa que se tornam mais baratos por tonelada quando distribuídos em um volume maior. Consequentemente, os compradores com capacidade financeira e infraestrutura portuária para receber remessas maiores (50.000 toneladas ou mais) podem obter economias substanciais de custo por unidade em frete e logística. A incapacidade de lidar com esses volumes maiores no porto de destino funciona efetivamente como uma penalidade financeira na forma de custos de transporte mais altos por tonelada.

Observação: Esta é uma divisão ilustrativa baseada em custos médios. O preço FOB é baseado na média de junho de 2025. O frete marítimo é o ponto médio da faixa estimada. O seguro é uma estimativa padrão. Os preços reais estão sujeitos a negociações e condições de mercado.
Segurança contratual: O papel da SBLC e da LC
Dado o alto valor dessas transações, a segurança financeira é fundamental. As usinas brasileiras e as empresas comerciais estabelecidas operam em um mercado inundado de consultas e precisam filtrar compradores confiáveis e financeiramente sólidos. Para reduzir o risco, elas exigem o uso de instrumentos financeiros robustos emitidos por bancos reconhecidos internacionalmente, geralmente aqueles classificados entre os 50 maiores do mundo.
Carta de crédito documental (LC ou DLC):Esse é o principal mecanismo de pagamento. É um compromisso do banco do comprador de pagar ao vendedor uma quantia específica mediante a apresentação de um conjunto de documentos em conformidade. Esses documentos comprovam que o vendedor cumpriu suas obrigações contratuais e, normalmente, incluem o Conhecimento de Embarque (prova de embarque), um Certificado de Origem e um certificado de inspeção de qualidade de um terceiro neutro, como a SGS (Société Générale de Surveillance). O LC protege o vendedor contra o risco de não pagamento após o envio das mercadorias.
Carta de crédito standby (SBLC):Esse instrumento funciona como uma garantia de desempenho que subscreve todo o contrato. É um "pagamento de último recurso". Se o comprador não cumprir suas obrigações nos termos do contrato de venda (por exemplo, ao não abrir o DLC operacional a tempo), o vendedor poderá solicitar o pagamento diretamente do banco do comprador contra a SBLC. Para os exportadores brasileiros, a exigência de uma SBLC é um procedimento padrão para garantir que estejam lidando com uma contraparte séria, pronta, disposta e capaz de executar a transação. Para qualquer novo importador, assegurar essas garantias financeiras é um pré-requisito inegociável para entrar no mercado brasileiro de açúcar.
Perspectivas de mercado e percepções estratégicas
A síntese dos dados de produção, das pressões logísticas e da dinâmica de preços de julho e agosto de 2025 permite uma análise prospectiva dos mercados de açúcar brasileiro e global. A perspectiva é caracterizada pela volatilidade contínua, com vários riscos importantes e considerações estratégicas para os participantes do mercado.
Análise de preços prospectiva
Curto prazo (4º trimestre de 2025):Espera-se que o mercado permaneça em um estado de tensão. Os preços provavelmente ficarão presos em um cabo de guerra entre duas forças opostas. Do lado da baixa, o início das colheitas no Hemisfério Norte, principalmente na Índia, e a possível liberação dos volumes de exportação indianos pesarão sobre os futuros globais. Do lado da alta, quaisquer outras revisões para baixo da safra brasileira devido a rendimentos decepcionantes, juntamente com o forte piso de preço fornecido pelo mercado doméstico de etanol, oferecerão um suporte significativo. Prevê-se que os prêmios logísticos, especialmente para cargas spot do Brasil, permaneçam elevados, já que os sistemas portuários continuam a administrar os altos volumes de tráfego das exportações de açúcar e grãos.
Longo prazo (2026):A trajetória do mercado em 2026 será determinada pelo fato de o grande excedente global projetado para a temporada 2025/26 realmente se concretizar. Se a safra da Índia for tão grande quanto o previsto e o governo autorizar exportações substanciais, e se as perspectivas iniciais para a safra 2026/27 do Brasil apontarem para uma recuperação dos rendimentos agrícolas, é provável que haja uma tendência estrutural de queda nos preços. Uma pesquisa da Reuters com analistas, realizada em meados de 2025, sugeriu que o mercado pode já ter precificado a mudança de um déficit global para um superávit modesto, limitando potencialmente uma queda maior, a menos que a produção exceda significativamente as expectativas.
Principais riscos para os participantes do mercado
Para compradores:O risco mais imediato e tangível é o logístico. O grave congestionamento portuário observado no Brasil destaca a vulnerabilidade das cadeias de suprimentos. Os compradores com termos FOB enfrentam riscos financeiros diretos de taxas de sobreestadia e atrasos na entrega. Além da logística, a volatilidade dos preços continua sendo uma das principais preocupações. Um evento climático repentino no Brasil ou uma mudança inesperada na política de exportação da Índia pode causar oscilações bruscas nos preços, afetando os custos de aquisição.
Para vendedores/produtores:O principal risco de mercado é uma queda significativa nos preços globais caso a grande safra indiana se concretize juntamente com uma grande cota de exportação. Isso pressionaria as margens da produção sem hedge. Um risco secundário, mas importante, é a flutuação cambial; um fortalecimento significativo do real brasileiro em relação ao dólar americano prejudicaria diretamente a lucratividade das exportações, que são cotadas em dólares, mas cujos custos são incorridos em reais.
Recomendações estratégicas
Para comerciantes:A divergência entre as previsões de produção da Conab e do USDA representa uma fonte importante de potencial volatilidade e oportunidades de negociação. O monitoramento atento dos dados de alta frequência, incluindo os relatórios de produção quinzenais da UNICA (com foco nos níveis de TRS e no mix de açúcar), os preços do etanol no mercado interno brasileiro (como indicador do piso do preço do açúcar) e os dados de congestionamento/alinhamento de portos de serviços como a Williams Brasil, fornecerão indicadores importantes de aperto no mercado físico antes dos relatórios oficiais do governo.
Para compradores:Para aqueles que priorizam a segurança orçamentária e a redução de riscos, a celebração de contratos CIF de longo prazo é uma estratégia prudente. Embora o preço nominal seja mais alto, ele transfere efetivamente para o vendedor os riscos financeiros e operacionais significativos de congestionamento portuário e atrasos na remessa. Para compradores experientes com parceiros logísticos fortes que optam por operar em uma base FOB, é fundamental levar em conta uma contingência financeira substancial para possíveis custos de demurrage em seus modelos de preços. Além disso, diversificar o porto de origem além de Santos durante os meses de pico de congestionamento, mesmo a um preço FOB ligeiramente mais alto de um porto como Paranaguá, pode ser uma estratégia econômica de redução de riscos.
Para Produtores:A flexibilidade estratégica da combinação açúcar-etanol continua sendo a ferramenta mais poderosa para maximizar a lucratividade. Os produtores devem continuar a ajustar dinamicamente sua produção com base nos retornos relativos de cada produto. Dada a incerteza em relação aos preços globais em 2026, é recomendável uma estratégia de hedge disciplinada. Seguindo o precedente em que 72,5% do volume de exportação de 2025/26 já estava com o preço fixado em janeiro de 2025, os produtores devem procurar fixar preços favoráveis para uma parte significativa de seu suprimento exportável previsto para 2026/27, a fim de se protegerem contra uma possível queda do mercado.
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